DESCRIÇÃO DO PROJETO / PROJECT DISCRIPTION
"Este projeto nasce da reabilitação da mansarda de um edifício oitocentista, com valor patrimonial, localizado no topo da Praça 8 de Maio, no coração da Figueira da Foz. De frente para o rio Mondego, o edifício – constituído por três pisos e sótão, de planta retangular, alçados simétricos e regulares e telhado de três águas – assume uma posição privilegiada na zona velha da cidade. A estrutura da cobertura e o telhado, ao apresentarem várias patologias, passam a representar uma oportunidade para repensar a planta deste último piso de modo profundo e integrado. Começa assim a ganhar vida o projeto Mansardas da Praça 8 de Maio, uma proposta com elementos modernos, que respeita a nobreza e história do edifício mas, simultaneamente, o rejuvenesce, ao transportar a frescura e leveza do rio e da praia, de fora para dentro. As principais preocupações passam por preservar e valorizar o espaço, melhorando a sua segurança, desempenho e conforto; otimizar a área habitável neste último piso, de modo a rentabilizar o investimento na sua conservação; e estabelecer um diálogo harmonioso entre o novo e o existente. A partir destas premissas definem-se os pressupostos base do projeto: Privilegiar as vistas sobre a praça e o rio. Reconstruir o telhado à imagem do existente – com três águas em telha marselha e caleira oculta; Conceber a nova estrutura sem comprometer a existente e de modo a contribuir para a sua estabilização, aumentando o tempo de vida do edifício; Usar a nova estrutura – a sua geometria, ritmo, métrica e matéria – como tema de projeto para caracterizar a arquitetura interior e ampliar a altura útil dos espaços; Introduzir luz e ar novo nas habitações, sem comprometer a harmonia global do edifício, pela abertura de trapeiras com cobertura em zinco, na alinhamento e frequência das janelas dos pisos inferiores; Reforçar a estrutura de madeira do pavimento do último piso, onde necessário, e reconstruir o soalho de madeira à imagem do existente. Posto isto, o projeto reformula os acessos ao piso em mansarda – escadas e elevador – e divide-o em dois apartamentos: um T1, composto por sala/cozinha em openspace, quarto, casa de banho completa e espaço técnico/arrumo; e um T2, que replica o mesmo esquema, com um quarto adicional e um pouco mais de área no openspace sala/cozinha, permitindo a introdução de uma ilha. Em ambos os apartamentos, as salas ocupam a fachada sul, com vistas para a praça e para o rio. Os restantes compartimentos orientam-se a poente, no caso do T1, e a nascente, no caso do T2, assegurando que todos os compartimentos habitáveis têm janela. O interior é caracterizado pelo ritmo e harmonia da grelha estrutural da cobertura, pela luminosidade das janelas refletida na brancura dos acabamentos interiores e pelo calor e textura da madeira natural, presente em todos os espaços, no chão e no teto. A arquitetura proposta é simples e despretensiosa, assente no princípio que cada intervenção deve refletir a visão, arte e técnica do seu tempo – o novo não adultera nem replica o existente, assume as diferenças e assegura continuidades, continuando a escrever a história do edifício. "
"This project is born from the mansards rehabilitation of a 19th century building, with patrimonial value, located at the top of 8 de Maio Square, in the heart of Figueira da Foz. Facing the river, the building – with 3 floors and an attic, a rectangular plan, symmetrical and regular elevations and a three-pitched roof – occupies a privileged position in the old town. Both the roof and its structure, presenting several pathologies, represent an opportunity to rethink the layout of this floor in a profound and integrated way. The main concerns include preserving and enhancing the space, improving its safety, performance and comfort, optimizing the habitable area on this top floor, in order to make a profit on the investment in its conservation and establishing a harmonious dialogue between the new and the existing. Based on these, the basic assumptions for the project were defined as follows: to favor views over the square and the river; to rebuild the roof at the image of the existing one – with three roof waters in Marseille tile and a hidden gutter; to conceive the new structure without compromising the existing one and stabilizing it, in order to increase the life span of the building; to use the new structure – its geometry, rhythm, metrics and material – as a design theme for the interior architecture and to increase the usable height of spaces; to introduce light and fresh air into the dwellings, without compromising the overall harmony of the building, through the opening of zinc-coated mansard windows, in the same alignment and frequency as the windows on the lower floors; to reinforce the wooden structure of the top floor pavement where necessary and rebuild the hardwood floor as original. That said, the project redesigns the access to the mansard floor – stairs and elevator – and divides the floor plan into two apartments: a two-room apartment, comprising an open-plan living room and kitchen, a bedroom, a bathroom and a technical/storage space; and a three-room apartment, which replicates the same scheme, adding one more bedroom and a little more area in the open-plan living room and kitchen, making room for a kitchen island. In both apartments, the living rooms are placed facing south, overlooking the square and the river. The remaining spaces face west and east, respectively in the two-room apartment and in the three-room apartment, ensuring that all habitable rooms have a window. The interior is characterized by the rhythm and harmony of the roof's structural grid, by the luminosity entering through the windows and reflects in the white interior finishes and by the warmth and texture of the natural wood, present in all spaces, both on floor and ceiling. The proposed architecture is simple and unpretentious, based on the principle that each intervention must reflect the vision, art and technique of its time – the new does not adulterate or replicate the existing, it assumes differences and ensures continuities, continuing to write the history of the building. "